HISTÓRIA DE SÃO FRANCISCO DO SUL
HISTÓRIA DE SÃO FRANCISCO DO SUL

 

 

 

 

 

BREVE HISTÓRICO DA REGIÃO A SER ATINGIDA DIRETA OU INDIRETAMENTE PELA DUPLICAÇÃO DA BR-280

 

 

 

São Francisco do Sul, Barra do Sul, Linguado, Araquari, Itapocu, Joinville,Guaramirim, Massaranduba,Schroeder, Jaraguá do Sul

 

 

 

 

 

(...) desenvolvimento , hoje, é a integração do passado com o presente, com o futuro, e só existe desenvolvimento na medida em que se preserva o passado, e na medida em que  desenvolvimento é essencialmente preservação do meio. A ação de preservação só pode ter resultado  na medida em que for uma atividade integrada dentro das áreas do Poder Público , da comunidade (...)

 

Arq. Cyro I. Correa de Oliveira Lima , 1984.

 

 

 

 

 

 

 

O trajeto que se estende por todo o percurso  da BR – 280 entre  São Francisco do Sul e Jaraguá do Sul  , a ser duplicada ,  tem uma história de povoamento , colonização e desenvolvimento  interligada e construída ao longo do tempo , desde os primeiros habitantes indígenas , passando pelas correntes portuguesa, açoriana, germânica, italiana, e demais etnias européias que se instalaram na região a partir da segunda metade do século XIX.

 

Do período pré-colonial, existem diversos e avançados estudos, que registram  a ocorrência de enorme quantidade de sítios-arqueológicos , vestígios da existência de grupos humanos que ocuparam esses espaços antes da chegada dos colonizadores europeus.

 

 

 

São Francisco do Sul - A antropóloga Maria José Reis ( 2004) aponta   essas ocupações  nas praias , margens de rios e lagos da Ilha de São Francisco do Sul e do entorno da Baía da Babitonga como um todo, onde foram localizados cerca de 150 sítios arqueológicos  , comprovando a presença indubitável desses grupos e  objeto de estudo de antropólogos, arqueólogos e historiadores . Entre  esses   sítios  os que têm maior visibilidade e são, por essa razão, os mais facilmente reconhecidos  e localizados estão os sambaquis , designação que significa no idioma Tupi , amontoado de conchas ( tamba = concha e ki = amontoado) . Chamam  a atenção por suas dimensões  , originalmente com 30 metros de altura por cerca de 10 metros de extensão em seu eixo maior .

 

  Pesquisas arquelógicas dão conta de sua maior antigüidade , cerca de 5 mil anos atrás ,  em relação aos demais sítios registrados no litoral catarinense  . Segundo  datações relizadas através de métodos físico-químicos , a presença de grupos sambaquianos persistiu até cerca de setecentos anos, época aproximada da chegada dos primeiros visitantes europeus ( Reis:57) .

 

  Além disso, a presença humana pré-colonial  na região é testemunhada através do registro de sítios de um outro tipo, a que os arqueólogos  denominam de sítios-oficina , localizados, em geral, nas proximidades dos sambaquis e provavelmente a eles associados no passado ( Reis: 58) . São um conjunto de sulcos e de depressões produzidos artificialmente  na superfície de afloramentos rochosos, localizados nas praias e nas margens de rios e lagos. Ambos foram provocados pela fricção, nessas superfícies, de pequenos blocos de pedra, misturados com água e areia, tendo como objetivo o preparo de artefatos líticos, tais como lâminas, machados, talhadeiras e raspadores ( Reis:58).

 

  Foram, ainda, registrados no entorno da Baía da Babitonga, sítios arqueológicos denominados genericamente de sítios rasos. As evidências mais facilmente detectadas nesses sítios são a concentração de artefatos líticos e pedaços de cerâmica depositados superficialmente em manchas comumente denominadas de terras pretas ou misturados com restos de conchas de moluscos, de peixe e de mamíferos . Seja como for, diz Reis  , as citadas evidências comprovam , do mesmo modo, a presença e a passagem , em tempos pretéritos , na região e no território atual de São Francisco do Sul, de grupos  humanos de diferentes tradições culturais, responsáveis por sua ocupação no período pré-colonial (...)

 

  Uma primeira e mais evidente constatação , tendo em vista a diversidade de vestígios e de sítios arqueológicos encontrados, associada à ampla dimensão temporal em que foram produzidos, é a da ocorrência de mudanças, ao longo desse tempo, na constituição e no conteúdo cultural dos sítios, fazendo supor a existência ou, no mínimo , de variações em alguns dos seus elementos . Por fim , a mesma autora recomenda - citando Bezerra de Menezes - :  a preservação desse patrimônio, como todo o trabalho de memória, volta-se para o passado, mas é constantemente realizada a partir de demandas do presente ( Reis: 67) .  

 

 Período Colonial  - Já na primeira metade do século XVI navegadores europeus  faziam incursões pelo  litoral catarinense em busca de passagem para as Índias . Os historiadores  conferem  primazia aos espanhóis   na denominação São Francisco, dada pela expedição de Juan Díaz de Solis em 1515. Este nome se estendeu pela baía  que os indígenas chamavam de Babitonga ou Bopitonga . No entanto , a indefinição da linha de Tordesilhas promoveu movimentações tanto de espanhóis como de portugueses na conquista das terras do sul do Brasil .

 

 Os espanhóis, na convicção de seus direitos , resolveram fundar, entre outros, um pueblo en la costa del Brasil, dentro de la nuestra demarcaciónen la parte que dicen San Francisco. Foi assim que o casal Fernando de Trejo e Maria de Senabria , junto com outros espanhóis instalaram-se na Ilha de São Francisco onde, po volta de 1533, fundaram uma povoação e construíram a Capela de Nossa Senhora das Graças . Ali nasceu Fernando de Trejo y Senabria, o filho do casal ,conferindo a São Francisco a primazia na lista de catarinenses ilustres. Trejo y Senabria  , na Argentina, viria a ser bispo de Tucumán e fundador da Universidade de Córdoba,  ( S.Thiago ,2004:77) .

 

 A fome e as doenças fizeram com que esses primeiros povoadores se retirassem para Assunção, seguindo pelo caminho antes palmilhado por D. Álvar Nuñez Cabeza de Vaca. Aliás, o brasão da família de D.Álvar compõe o Brasão de Armas do Município de São Francisco do Sul, lembrando-o como  um dos primeiros espanhóis a incursionarem por suas paragens , mais propriamente na Foz do Rio Itapocu, terras das quais tomou posse  em nome do Rei da Espanha. Dali seguiu por terra até o Paraguai pela trilha dos índios, o famoso e lendário Caminho do Peabiru.

 

 Há notícia  de que em 1629  foi concedida    uma sesmaria para o   bandeirante Manoel Preto  pelo  Conde de Monsanto, da governadoria da Ilha de Santa Catarina . Entretanto , o  domínio espanhol exercido sobre Portugal entre 1580 e 1640 – UniãoIbérica -  mais o interesse predominante dos espanhóis na procura de metais preciosos no interior do continente, afrouxaram as iniciativas de povoamento, tanto de um lado como de outro. Só depois de desfeita  a União Ibérica  foi que Portugal iniciou o povoamento da região, com a fundação de Paranaguá, São Francisco, Desterro e Laguna .

 

 Assim, batizada pela Espanha , São Francisco foi efetivamente fundada e colonizada por iniciativa portuguesa , por meio das chamadas bandeirasde colonização . O estabelecimento de bandeirantes como Manoel Lourenço de Andrade, em São Francisco, de Dias Velho, na Ilha de Santa Catarina e Brito Peixoto  em Laguna , aponta para a intenção de domínio rural semelhante àquele que se praticava no Nordeste, aliada à necessidade de defender a costa e expandir a ocupação portuguesa para o sul .

 

  A fundação do povoado, por Manoel Lourenço de Andrade,  supostamente em 1658, e a elevação à categoria de Vila em 1660,  conferiu a São Francisco o lugar de primeira vila fundada na então Capitania de Santo Amaro e Terras de Sant’Ana que em 1738 tornar-se-ia Capitania de Santa Catarina .

 

  Diz o historiador Dr. Luiz Gualberto, citado por  Carlos da Costa Pereira ( 1984:43) ,  que não foi no local onde hoje está situada  a cidade , que assentaram os primeiros fundamentos da povoação. Só depois de conhecidos os inconvenientes que ofereciam os pontos em que tentaram localizar-se – num afluente do Rio Parati, próximo ao morro denominado Paranaguá-Mirim; depois à margem fronteira desse mesmo afluente, e mais tarde na ponta do Itacolomi , é que se transferiram para o local em que se fixaram  definitivamente, prosperando a incipiente povoaçao com a indústria de cordoaria, o preparo de peixe seco, a construção de barcos e a cultura de cana-de-açúcar, do algodão , e, sobretudo da mandioca para o fabrico da farinha (...)  .

 

  Lourenço de Andrade reservou para si , terras que se estendiam da vila ( atual centro da cidade ) até  as Laranjeiras . Morreu em 1665. Sucedeu-o no governo e na concessão de terras  Gabriel de Lara , que   por sua vez foi sucedido , com iguais poderes por Domingos Francisco Francisques, o Cabecinha. Este  governou até 1713, distribuindo e concedendo, como seus antecessores, sesmarias por todo o litoral de São Francisco até a Lagoa de Ibiraquera , incluindo a Ilha de Santa Catarina .

 

 Em 1720, a Vila de Nossa Senhora da Graça de São Francisco estendia-se da ponta norte da Enseada das Garoupas, no atual município de Porto Belo, até a barra e o Rio de Guaratuba, abrangendo todas as praias e os rios situados entre os dois pontos, assim como os sertões confinantes com os espanhóis.  Deste vasto território se desmembraram as terras hoje correspondentes, entre outros, aos municípios de Porto Belo, Itajaí, Joinville, Araquari, Garuva, Barra Velha, Piçarras, Penha, Barra do Sul e Itapoá. No continente, do outro lado da baía, situa-se a Vila da Glória, no Distrito do Saí , ainda hoje pertencente a São Francisco ( S.Thiago, 2004:79) .

 

 Subjacente à conquista das terras que comporiam o império colonial português e espanhol , estava o tom salvacionista que os soberanos católicos  imprimiram à missão de converter os povos pagãos. Não por acaso, portanto, era função primordial dos fundadores de povoados e vilas , construir a igreja antes mesmo da Casa do Conselho, sede da administração local, e do Pelourinho, simbolo da autoridade e onde se supliciavam os escravos .

 

 Nessa ótica, é possível compreender que, mesmo antes da chegada de Manoel Lourenço de Andrade, por força de tentativas anteriores de povoamento ,  já existia em São Francisco, a capela de Nossa Senhora da Graça, quando o povoado não contava, ainda, com uma dúzia de habitantes . Andrade mandou construir outra igreja , concluída em 1665 sob a invocação da mesma padroeira, o que condizia com a nova condição de paróquia ,estabelecida naquele ano. ( S.Thiago: 2004, 82/83).

 

 Desde o início tentou-se instalar em São Francisco um regime de grandes propriedades destinadas à agricultura, com mão-de-obra de escravos e agregados. No entanto, as propriedades rurais provenientes da concessão de sesmarias não chegaram a utilizar, na maioria dos casos, um número significativo de escravos . Mas é bom observar que assim como outras etnias, os africanos   estão presentes no processo histórico da região, especialmente pelo legado da sua cultura.

 

 Com a Independência , a Vila tornou-se Município de São Francisco do Sul, importante, na época, no âmbito político- administrativo e estratégico. Concorriam para isso sua posição privilegiada no Atlântico Sul e seu porto, desde o século XVI reconhecido pelos navegadores como  bem abrigado e bom para aguada . No âmbito econômico, no entanto, só ganharia expressão como parte integrante da colonização do nordeste e do planalto catarinenses a partir da fundação da Colônia Dona Francisca ( atual Joinville ) , em 1851, pela Companhia Colonizadora de Hamburgo, responsável pelo assentamento de imigrantes germânicos na região. ( S.Thiago:2004 79) . Mais tarde seriam incorporados ao interland francisquense, principalmente no que se relaciona ao porto , as atividades resultantes da colonização e povoamento  do Vale do Itapocu, incorporando Araquari, Guaramirim , Jaraguá do Sul e adjacências .

 

 Desde o início da colonização germânica , foram boas as relações entre São Francisco e a Região de Joinville , afinal essas terras estavam nos domínios do município de São Francisco do Sul.  A conjugação inicial de fatores favoráveis ,  como a abundância de madeira e  erva-mate proveniente da região e do planalto, a conclusão da Estrada Dona Francisca, o Rio Cachoeira e principalmente o Porto de São Francisco , fizeram nascer, entre as duas cidades, uma teia de relações econômicas e políticas com peso bastante para promover interessante impulso econômico, cujos reflexos atingiram São Bento do Sul, Mafra, Rio Negrinho,Campo Alegre e Vale do Itapocu. ( S.Thiago, 2004: 98/99) .

 

 À medida que a economia se acelerava, a infra-estrutura de atracação no porto de São Francisco do Sul, tornava-se mais complexa. Em 1903, a empresa Carl Hoepcke e Cia. ,  de Florianópolis, construiu um trapiche e alguns armazéns para suas atividades de importação e exportação, onde hoje está instalado o Museu do Mar. Não tardou e a estrada de ferro seria inaugurada em 1910, ligando a cidade a Porto União, no norte catarinense, garantindo a integração ao sistema ferroviário nacional, através da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande. ( S.Thiago: 99).

 

 A decadência do ciclo do mate e da madeira no planalto e na região de Joinville promoveu certa estagnação nas atividades portuárias até a década de 1970, quando foi instalada a Cocar, hoje Cidasc ( Companhia Integrada de Desenvolvimento e Armazenagem do Estado de Santa Catarina), terminal especializado no recebimento, armazenagem e envio de grãos. O terminal graneleiro, mais o incremento das exportações de manufaturados promoveram a reviltalização do Porto, contribuindo para seu renascimento socioeconômico .

 

  

 

Araquari -  A História de Araquari começa 40 anos depois do descobrimento do Brasil. O navegador espanhol Álvaro Nunes Cabeza de Vaca aportou onde hoje é Barra Velha e incentivou a exploração da região norte, até então habitada por indígenas. A expedição reuniu 250 homens da confiança de Cabeza de Vaca, 40 cavalos, alguns escravos e um grupo de índios catequizados pelos jesuítas. Um mês depois, chegavam a Araquari, que chamaram primeiro de Paranaguá Mirim (“enseada pequena”, em tupi-guarani) e depois de Parati.

 

  Em 1658, os primeiros bandeirantes portugueses fixaram-se na região, habitada por índios carijós, mas a fundação efetiva da vila só aconteceu  quando uma nau portuguesa aportou em Parati sob o comando de Manoel Vieira, que ali fundou uma pequena colônia em 1848 . A ele teria se juntado outro pioneiro, de nome Joaquim da Rocha Coutinho, sendo ambos considerados os fundadores da freguesia de Senhor Bom Jesus do Parati, parte do município de São Francisco do Sul.

 

 Em 1876 Parati foi desmembrado de São Francisco, passando e elevado à condição de município . Em 1923, após muitos anos de vida autônoma, Parati voltou a fazer parte de São Francisco . Esta situação estendeu-se até 1915, quando sua condição de município foi restaurada. Em 1943 passou a chamar-se Araquari  ( rio de refúgio dos pássaros em tupy guarani )  do qual foi desmembrado e constituído o município de Barra-Velha em 1961 ( S.Thiago,1983: 49) .

 

 O município de Araquari foi colonizado basicamente por imigrantes açorianos, que chegaram no litoral catarinense entre os anos 1748 a 1756, e desde então, a cultura açoriana enraizou-se e caminhou de mãos dadas com as mais diversas culturas, como no caso a indígena e a africana, ambas importantes nesta região criando assim, um mosaico cultural e religioso.

 

 Existem algumas ruínas próximo ao rio Parati, que acredita-se pertencer ao período colonial. A arquitetura do lugar é muito peculiar, resultado do contato dos   imigrantes açorianos com os indígenas . Ainda encontra-se engenhos de farinha que produzem de forma artesanal, desde a farinha ao biju.

 

Na localidade de Itapocu , município de Araquari , a comunidade afro-descendente  da região , durante os festejos de Natal, promove  a festa do Cacumbi. Itapocu  era conhecida como Porto do Sertão, um reduto de negros escravos e libertos oriundos das regiões vizinhas e de outras cidades do país, que mantinham o Cacumbi como uma das suas mais importantes manifestações culturais. Em 1854 criaram a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e, assim, incluíram a festa no calendário religioso. Hoje existem duas igrejas na comunidade de Itapocu, a do Sagrado Coração de Jesus, dos brancos e a de Nossa Senhora do Rosário, dos negros ( Sesc- Santa Catarina ). 

 

 É provável que a existência do  reduto ( ou quilombo) do Itapocú tenha relação com o que diz  Labale ( 1999) : „ em São Francisco do Sul, ainda hoje o sistema de registro das propriedades e a regularização de situações de fato( posses) são um problema freqüente da estrutura fundiária local, em particular em relação à população negra.  A incorporação da terra ao sistema cartorial foi realizada de forma seletiva, restando aos afro-descendentes a ocupação de espaços marginais ao sistema de propriedade, ao mesmo tempo residuais e intersticiais“ ( In: Santos, 2004:80) .

 

 

 

Balneário Barra do Sul – Localiza-se na região norte-nordeste do Estado e limita-se ao norte e a leste com os municípios de Araquari e São Francisco do Sul e o Oceano Atlântico; ao sul e ao oeste também com o município de Araquari. Possui 110,6km2 de área territorial, com 20,6km2 na área urbana e 90 km2 na área rural . Com o decorrer do tempo e, no processo de povoamento , vários povos miscigenaram-se , como portugueses, açorianos e indígenas .

 

Em 1820 colonizadores radicados em São Francisco do Sul transferiram-se para as terras onde hoje está o município de Balneário Barra do Sul ( Sousa ,2002:17 ) . De acordo com o mesmo autor, não se sabe  o motivo que os teria levado a tomarem essa iniciativa, porém é certo que João Pereira de Santana sua esposa e dois filhos, viajando via fluvial, entrou no primeiro afluente da margem esquerda do Rio Perequê , aportando no local onde hoje está a Rua Ademar dos Santos ( marco zero) , local que por muito tempo foi chamado Porto do Santana.

 

Ali os novos habitantes encontraram sinais de populações pré-coloniais em alguns sambaquis nos quais foram encontrados fósseis humanos e utensílios indígenas . Também os guarani/carijó  ali estiveram , deixando como sua marca a denominação de diversos locais, entre eles o do Rio Araquari derivado de araquá – ave da região + y , rio , significando Rio dos Aracuãs.

 

Inicialmente Barra do Sul foi chamada de Barra do Araquari que, a partir da sua fundação, incorporou-se á jurisdição do município de São Francisco do Sul ( Sousa: 18) . Ali os colonizadores dedicaram-se  à pesca no Rio Araquari, bastante piscoso, que garantiu o abastecimento familiar , no início, e depois a comercialização. Também criava-se gado bovino, e a agricultura era de subsistência. Aos poucos,  desenvolveu-se  uma estrutura básica, como engenho de farinha, abertura de estradas que permitiram a comunicação, via terrestre, com outras localidades da região ( Sousa: 19) .

 

Assim como em outros locais colonizados pelos europeus, em Barra do Sul não foram poucos os confrontos com os indígenas . Mas havia, também populações indígenas pacíficas – carijós - que conviviam com os colonizadores , e como diz Souza , foram absorvidos na massa da população .

 

A partir de 1865, começaram a chegar pequenas levas de colonos  oriundos de localidades vizinhas. Foram esses colonizadores que abriram a picada até o Barranco Alto ( atual Rua Cleto Rosa) .No ano de 1900, 400 pessoas habitavam a região, distribuídos em várias localidades . A vila mais povoada era Barra do Araquari ( sede) , com cerca de 150 moradores.  Nessa época esta localidade passou a denominar-se simplesmente Araquari.

 

Por volta do ano de 1921 , o pequeno povoado de Linguado , assim chamado em virtude da abundância desse peixe nas redondezas, foi ganhando novos moradores . A partir de 1928 ,  chegava  o comerciante Odorico Moura , que se instalou onde hoje ficam as margens da BR 280, passando a comercializar folhas de mangue  e casca de jacapirana , uma árvore da região ,  para vender nos curtumes de Joinville . Com isso, a localidade alcançou significativa melhoria . Atualmente a atividade pesqueira é a que predomina , pois a extrativa encerrou-se com o fechamento do canal em 1935 ( Sousa:25).

 

Em 1943, a localidade passou a denominar-se Barra do Sul, por estar localizada às margens da barra sul da Ilha de São Francisco. Em 1981 foi promovida a Distrito e em 1992 tornou-se o  município Balneário Barra do Sul . O Balneário é conhecido , também, pelos aspectos  preservados ainda nativos, com mata atlântica, restingas, dunas, a Lagoa da Costeira, formando um verdadeiro santuário ecológico de vidas marinhas e silvestres ( Sousa: 160) . Tem como fonte de renda a pesca, o turismo e uma empresa de extração de magnésio, pertencente à Buschle & Lepper .

 

O turismo teve como fatores de desenvolvimento a implantação da estrada de acesso à BR280, sistema de abastecimento de energia elétrica e água e a pavimentação asfáltica da SC 495, nas décadas de 50, 60, e 90 do século XX, respectivamente ( Sousa:161)

 

No seu calendário de eventos populares , incluem-se o Dia de Reis, em 6 de janeiro; festa do camarão, no mês de maio e festa da tainha, no mês de junho .

 

Joinville – Em 157 anos (1851-2008) Joinville  construiu uma história envolvida  nos  acontecimentos do mundo, num fluxo compatível com as forças  nacionais , regionais e locais  que interagiram para torná-la   uma cidade de porte médio e   população de meio milhão de habitantes .

 

 Na condição de colônia nasceu Joinville , em 1851, por iniciativa de empresários alemães, acionistas da Companhia Colonizadora de Hamburgo. Essa empresa promoveu a emigração de milhares de europeus, a maioria vítima da crise que se operava nos campos e cidades germânicas em decorrência da revolução industrial e do processo de consolidação do capitalismo.

 

 O distrito de São Francisco do Sul, onde estava instalada a nova colônia ,  então habitado por luso-brasileiros com seus escravos africanos mais os caboclos, viu-se enriquecido por novos habitantes e novas culturas. Chegaram ali, a partir de 1851, germânicos oriundos de diversos reinos e principados alemães , da Suíça, Áustria, Noruega, Suécia, Dinamarca. Assim, prussianos, saxões, turíngios, pomeranos, suíços de diferemtes cantões, austríacos, boêmios, suecos, dinamarqueses e noruegueses passaram a conviver , inicialmente nas oito léguas quadradas adquiridas do príncipe de Joinville.

 

  Origens diversas naturalmente  trouxeram diferentes idiomas e dialetos, embora a maioria fosse de base cultural germância ( S.Thiago, 2001:15) Iniciava-se , portanto, a ocupação efetiva das terras onde se desenvolveria a cidade de Joinville, já em meio a acentuada diversidade cultural tanto entre os imigrantes quanto entre imigrantes e nativos .

 

  A colônia estava assentada em terras dotais , em decorrência do casamento do Príncipe de Joinville, francês, com a princesa brasileira Francisca Carolina, irmã do Imperador D.Pedro II. Quando da demarcação , as terras foram sistematicamente desviadas dos sítios de lavoura já existentes, propriedades de antigos moradores luso-brasileiros.

 

 Não sem motivo Ficker ( 1960:32) observa: Não é exato afirmar-se que em 1851 as grandes zonas destinadas à colonização européia seriam ínvio e desconhecido sertão. Eram, ao contrário, bastante habitadas as cercanias. O confronto cultural foi inevitável. Os imigrantes se depararam com grandes propriedades, mandonismo local e escravidão no sistema dos luso-brasileiros. Conheceram, ainda, o gosto pelas andanças no sertão herdado pelos caboclos do seu quinhão indígena, e pelo fandango, do seu quinhão português. Além disso, a condição de escravos não impediu os africanos de disseminar suas mais genuínas manifestações culturais por toda a região de colonização.

 

 O desafio de construir um novo habitat exigiu do imigrante europeu  a capacidade de dominar o meio ambiente, vontade e muito trabalho . Era a ética protestante, associada a circunstâncias adversas , forjando o espírito empreendedor do colono. Trouxeram consigo sua cultura e tradições , idiomas, costumes, crenças. Este encontro entre culturas tão distintas acabou tornando  os ( as ) imigrantes um novo homem e uma nova mulher. Seus filhos , por sua vez, tiveram de olhar o mundo a partir do Brasil , embora nos primeiros tempos da colônia , o esforço tenha sido  direcionado  para a reafirmação e recriação da cultura e das instituições germânicas. ( S.Thiago,2001:16) .

 

 As expressões culturais transplantadas da Europa, no entanto, recebiam, sutilmente, outras tonalidades, definidas pelas novas circunstâncias. A arquitetura européia das casas em enxaimel sofreu modificações, na cozinha novos ingredientes  substituíram aqueles usados na Europa .

 

  Eram freqüentes as apresentações de cantores, atores, mágicos , e imigrantes artistas que animavam o cotidiano dos colonos organizados em  diversas associações culturais fundadas já na primeira década da colonização , imprimindo  a Joinville uma aparência notadamente germânica ( S.Thiago,2001:18) . Com o passar do tempo, especialmente depois da  Campanha de Nacionalização levada a cabo pelo Estado Novo de Vargas durante a Segunda Guerra Mundial , a marca germânica vai dando espaço a novas manifestações culturais, trazidas por novos imigrantes, desta vez brasileiros .

 

 Nos primeiros trinta anos a vida econômica da Colônia se restringia  à transformação de produtos agrícolas, com engenhos de açúcar e cachaça, farinha de mandioca, serrarias, olarias e outros produtos como sabão, vinagre, louca de barro, cerveja, charuto e cigarrilhas ( S.Thiago: 1988:23) Considerada  a situação de precariedade do meio ambiente quando os colonos aqui chegaram, estas atividades representavam o sucesso do empreendimento colonizador.

 

 A exploração da madeira foi a primeira atividade extrativa realizada pelos colonos e colonizadores , começando  a produzir os primeiros resultados antes mesmo do fim da década de 1850. Diz Ternes ( 1986:39) , que no início dos anos 1860, Emile Mathorel, procurador da Casa Orleans, com sede em Paris, chegou em Joinville para, como funcionário da Sociedade Colinizadora , participar das atividades de expansão da pequena Joinville, mas também para administrar comercialmente as terras restantes do Príncipe de Joinville , através do Domaine Dona Francisca e do Duque D’Aumale, através do Domaine Pirabeiraba , onde, aliás, se instalara  uma grande serraria, que passou à história como a  Serraria do Príncipe .

 

 Com a construção e mais tarde a abertura  da Estada Dona Francisca ao tráfego, a partir dos anos 1870, as instalações da Serraria do Príncipe foram ampliadas . A madeira era transportada até o porto de Joinville ,no Cachoeira, onde estava o cais do Poschaan , nas imediações do Mercado Municipal, para exportação  ( Ternes:40) .

 

 Em virtude do rápido desenvolvimento da atividade madeireira,  por toda a década de 1860, novos empreeendimentos foram aparecendo, uma vez que o preço da madeira era atraente , e as matas próximas à colônia eram ricas em cedro, araçá, jacarandá, peroba, imbuia, canela, cabriúva e araribá ( Ternes:40) . Diz ainda este autor: nestas áreas de grande movimentação de madeira, surgiam também os primeiros engenhos para a produção da cachaça, aproveitando-se das plantações de cana, igualmente em rápida proliferação nas áreas mais afastadas da sede da colônia . A madeira , contudo, foi de fato o primeiro grande impulso econômico para Joinville e surgiram estabelecimentos fortes nas duas últimas  décadas do século passado, destacando-se alguns nomes , mais adiante de maior destaque  no processo econômico: Lepper, Colin, Gomes de Oliveira, etc.( Ternes: 40/41) .

 

 Destaca-se , mais uma vez , a Estrada Dona Francisca como  importante elemento de prosperidade . Financiada pelo Governo do Império ,  além de criar empregos para os colonos , foi fator de povoamento da zona da serra, da valorização dos terrenos das proximidades, bem como do desenvolvimento da lavoura e da criação de gado.  Ligando Joinville às grandes reservas de ervais do planalto, propiciou o desenvolvimento da atividade ervateira, no que diz respeito ao beneficiamento e comercialização . Para isso, muito concorreu o fácil acesso fluvial ao porto de São Francisco do Sul, para o escoamento do produto a ser exportado.

 

 O processo pelo qual se desenvolvia a economia ervateira em Joinville iniciava-se no planalto, de onde era extraída a erva e beneficiada com mão-de-obra cabocla; numa segunda etapa, o produto a ser beneficiado era transportado em carroções por teuto-brasileiros, geralmente da Colônia São Bento. Finalmente, em Joinville, dava-se a industrialização,  com mão-de-obra teuto-brasileira ( S.Thiago, 1988:31) .

 

 As primeiras firmas exportadoras  foram Germano Lepper, Alexandre Schlemm, Jordan, e outras que já nasceram expecilizadas na exportação da erva-mate, tais como Irmãos Ribeiro, Oliveira & Genro,da qual fazia parte Abdon Baptista, Freitas Valle e tantas outras . As empresas que mais se destacaram nos negócios com erva-mate foram de luso-brasileiros . Estes preponderavam na política local e estenderam, em certos momentos, o seu âmbito de influência à política do Estado. No final  do século XIX e início do XX, as principais empresas exportadoras de erva-mate eram: Abdon Baptista e Oscar, Augusto Ribeiro e Procópio, Oliveira & Genro, Ernesto Canac & Cia.

 

  Algumas dessas empresas tinham suas matrizes em Joinville e filiais em São Bento  do Sul onde, além de gêneros alimentícios, possuíam engenhos de beneficiamento de mate. Para melhor aproveitamento das suas potencialidades e facilidades na exportação , umiram-se todos esses comerciantes e fundaram , em 1891, uma sociedade anômima com o nome de Companhia Industrial . Esta empresa foi o símbolo do poderio econômico de Joinville desde sua fundação até sua dissolução ,em 1906 ( Almeida,1979:16) . Mas os negócios da erva-mate continuam com toda a força, pelo menos até a década de trinta.

 

 O período compreendido  entre 1920 e 1950, trouxe significativas mudanças resultado de iniciativas  anteriores como a abertura da  Estrada Dona Francisca  ,  da   chegada  da energia elétrica em 1909  e  inauguração da estrada de ferro em 1910 , ligando São Francisco a Porto União, passando por Joinville que passou a abrigar a Estação Ferroviária, hoje reconhecida como um dos mais significativos patrimônios históricos e arquitetônicos da cidade .

 

   Conseqüentemente as  atividades ganharam  ritmo mais intenso, as alterações da paisagem eram visíveis e a   cidade se expandia, com novas ruas e bairros. Destaca-se aqui o que diz Rocha ( 1997:32) : Joinville foi colonizada, além dos agricultores, por muitos artesãos, comerciantes, intelectuais etc., que desenvolveram atividades econômicas organizadas em grandes ( serrarias, usinas) e pequenos ( oficinas, marcenarias, etc) empreendimentos coloniais e comércio ( import-export, erva mate , madeira) .

 

  Conclui Rocha, então , que a infra-estrutura da região muito contribuiu para que o contexto geográfico-econômico  formasse as condições preliminares para a gênese industrial de Joinville , cujo processo divide em etapas , num texto bastante elucidativo :

 

 (...)no processo de industrialização de Joinville, a fase artesanal predominou nas três primeiras décadas ( 1851-1880) e se desenvolveu graças à presença de muitos artesãos e à existência de um mercado consumidor ( colonos, necessidade de equipamentos, etc).

 

     As primeiras indústrias foram fundadas a partir de 1880, originárias dos artesãos e capital comercial não ervaterio. A maior parte era composta por estabelecimentos têxteis, mas precocemente surgiram outros, como as fundições e oficinas mecânicas. A demanda das economias da erva-mate ( carroções, barricas, ferraduras, engenhos, etc), da madeira ( serrarias, etc.), do porto, da estrada-de-ferro , e dos próprios colonos influiram na precoce tradição metal-mecânica de Joinville .

 

         A substituição de importações, na Primeira Guerra Mundial, ocasionou não só um aumento, como inovou a produção das                        indústrias recém implantadas .

 

     Nas décadas de 20 a 40, surgiram diversos estabelecimentos do setor têxtil, mas precocimente, em termos de Brasil, foram fundados outros tantos no setor metal-meânico. A princípio, as indústrias abasteciam o mercado local e arredores e, gradativamente, conquistaram o mercado de produtos importados no Brasil, principalmente após a Revolução de 30 e durante a Segunda Guerra Mundial, com a já mencionada substituição forçada das importações.

 

     Após as década de 50, com o apoio governamental, as indústrias de Joinville se consolidaram no mercado nacional, contribuindo para a indústria automobilística, expansão das redes de eletrificação , saneamento básico etc.. e assim se constituíram grandes grupos industriais como Hansem, Tupy, Nielson, e outros, que iniciaram as exportações industriais de Joinville, intensificadas nos anos 80 e 90. Rocha:60/61) . 

 

Não se pode desprezar, nesta rápida análise , as mudanças trazidas pela chamada Revolução de 1930 que inaugurou a Era Vargas . A partir daí o Estado passou a cumprir seu papel de promotor do desenvolvimento, com a execução de uma política econômica voltada para este fim . 

 

 Em Santa Catarina, a partir do Plano de Metas do governo de Juscelino Kubitschek , implantou-se um planejamento governamental , quando sobressai o Plano de Metas do Governo Celso Ramos – PLAMEG    ( 1961-1965) , que priorizou obras de infra-estrutura de água e esgoto no muncípios, energia, rodovias, edifícios de segurança pública, etc. Neste período foi criado o Banco de Desenvolvimento do Estado para estimular a expansão industrial e agrícola. O  mercado conumidor em expansão, em todo o Brasil , a queda das importações durante e após a Segunda Guerra  ,  políticas industriais de incentivo tanto no âmbito federal como no estadual, entre os quais o Fundo de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina – FUNDESC, que vigorou de 1968 a 1976 , tudo isso  colaborou na alavancagem das mais importantes indústrias joinvilenses . 

 

    Desta forma,  a  sólida base econômica , especialmente no setor industrial , com desdobramentos  para outros setores  , acabou por tornar a cidade  um pólo receptor de migrantes , agora  nacionais, que enfileiravam-se  no enorme movimento  migratório no interior do Brasil  a partir dos anos 1950  , intensificando-se nos anos 1960 e 1970 . Milhares de Pessoas, provenientes de várias partes do Brasil, foram incorporadas à sociedade, tornando-se novos cidadãos joinvilenses, que aos poucos se tornam lideranças comunitárias , o que demonstra as profundas mudanças não somente na composição étnica, mas no tecido social da cidade . Há, ainda, a comunidade ítalo-brasileira, que no decorrer do século XX aqui se instalou, trazendo desenvolvimento econômico e novas manifestações culturais. Acrescentemos, também,  as tradições gaúchas que cresceram significativamente nos últimos anos. 

 

Enfim a população joinvilense, hoje, compõe um caldeamento cultural e se manifesta como verdadeira síntese da nova Joinville que continua a transformar-se a passos sempre mais acelerados e em todos os sentidos, tal como determina a dinâmica do viver atual .

 

Jaraguá do Sul - No século XVI , quando os europeus chegaram no Brasil , o território era povoado pelos tupi-guarani .   Antes disso, o homem sambaquiano também deve ter pisado este solo. Por volta do Século XVII, os xocleng ocuparam a região e enfrentaram traumático confronto com os colonizadores europeus  por ocasião da colonização do vale. Alguns vestígios da ocupação indígena na região ainda podem ser encontrados.

 

Supõe-se que a denominação  “ Jaraguá “ foi atribuída pelos indígenas, primeiramente, ao atual Morro da Boa Vista, por elevar-se por sobre o vale, como senhor ou dono do mesmo. “Iara+guá” tem o significado de senhor, dominador ou dono do vale.

 

 Acredita-se que Alvar Nunes Cabeza de Vacca, na primeira metade do Século XVI, tenha subido do litoral pelo Vale do Itapocu em direção a Assunção, Paraguai, seguindo um ramal do Caminho do Peaberu.

 

 História recente  -   Em 1864, quando a Princesa Isabel, herdeira do trono do Império do Brasil, casou-se com o Conde d’Eu , o dote nupcial previa a dação de 25 léguas quadradas de terras na Província de Santa Catarina  . Parte das terras onde foi fundada Jaraguá do Sul,  integrava o  dote da princesa . Várias  tentativas de demarcação dessas  terras  foram empreendidas , até que uma proposta Coronel Emílio Carlos Jourdan foi acolhida pelo Conde . O contrato de concessão entre os príncipes e  Jourdan foi celebrado em 25 de janeiro de 1876 ( Silva:417) . Jourdan    era velho  amigo do príncipe  e  participara da Guerra do Paraguai

 

Segundo Emílio Silva, professor e historiador de Jaraguá do Sul, Jourdan chegou às terras localizadas na margem direita do Rio Itapocu, depois de uma viagem perigosa pela mata Atlântica, desde Paranaguá , via São Bento.  Diz este autor  que essa teria sido a primeira odisséia de Jourdan , que demorou 49 dias na mata e abriu cerca de 117 quilômetros de picada , tendo  pisado pela primeira vez as terras onde seria fundada Jaraguá do sul , em 15 de abril de 1876.

 

O contrato firmado entre Jourdan e os príncipes , previa o arrendamento de 430 hectares de terras por 15 anos , com a promessa de venda de dois mil hectares que, se pagos, perdoaria a dívida do arrendamento dos 430 hectares . Jourdan  teria direito de extrair a madeira, erva-mate e minérios , levando o empreendedor a consolidar sua idéia de colonizar a área a partir de plantações de cana-de-açúcar e de um engenho , mais um engenho de farinha de mandioca e de fubá, olaria e serraria no local que denominou “Estabelecimento  Jaraguá” .

 

 Para tanto, levou para o local cerca de 30 famílias de colonos, entre ferreiros, marceneiros, carpinteiros, pedreiros, padeiros e lavradores .  Em 1878 o “Estabelecimento Jaraguá” contava com um engenho de açúcar, serraria a vapor, que exportava madeira em “mais de cem contos de réis” e havia conseguido instalar no meio da mata um total de 211 pessoas, entre empregados e famílias de colonos . O Rio Itapocu, obstruído por cachoeiras que dificultavam sua navegação foi  melhorado e assim se conseguiu acesso ao porto de São Francisco e mais de 30 quilômetros de estradas foram abertas pelo sertão, em direção à Colônia Dona Francisca e  ao planalto norte .  ( Silva: 417/18) .

 

Mas essas providências não bastaram para levar a cabo a tarefa da colonização. Faltava de tudo para os colonos, escola, hospital, igreja, as instituições básicas  . Por outro lado, um litígio com os empreendedores da Colônia Dona Francisca fez com que Jourdan desistisse da empreitada. Assinou a escritura de renúncia no dia 6 de junho de 1888.

 

Fiel ao seu ideal, em 1894, Jourdan solicitou e foi atendido pelo governo do Estado de Santa Catarina , recebendo a   concessão de 10 mil hectares de terras no Vale do Itapocu , novamente para colonização . No entanto, ainda não seria o momento da efetiva colonização, pois teve que recuar nos limites anteriormente definidos . É que mais uma vez a Companhia Colonizadora de Hamburgo acabaria se interpondo , pois a ela  coube o  direito de vender as terras em questão .

 

 A  segunda tentativa de .colonização de Emílio Carlos Jourdan portanto,  também não deu certo . Em 1898 retirou-se do empreendimento , transferindo suas ações para a firma Pecher & Cia, sediada no  Rio de Janeiro . Já em julho deste  ano    o Governo de Santa Catarina baixou decreto anexando Jaraguá a Joinville. Inicialmente as terras de Jaraguá pertenciam a São Francisco, depois foram transferidas para Paraty ( atual Araquari) , voltando  para Joinville em 1883 e de novo a Paraty em 1896 ( Silva : 421) .

 

Entre as iniciativas de Jourdan e sua retirada ,  três áreas de assentamentos foram estabelecidas na região : a  primeira,  que esteve sob a administração do primeiro colonizador , entre 1895 até 1898; a  de Joinville em direção a Jaraguá, sob os cuidados da Cia. Colonizadora de Hamburgo e outra corrente que  veio de Blumenau, através da Agência de Terras e Colonização de Blumenau, que se deslocava por Pomerode e Rio dos Cedros.( Silva: 420) .

 

A  inexistência de estradas carroçáveis manteve o isolamento das famílias por longo período, fazendo surgir a figura do “comerciante-vendeiro”, nas pessoas de Victor Rosemberg, lituano de Riga, ( balseiro em Itapocu desde 1887) , Johan Gotlieb Stein , instalado na localidade de Itapocuzinho ( atual Guaramirim) , e Georg Wolf , imigrante húngaro que se instalara em Jaraguá em 1891, com uma atafona de farinha de milho onde moía o milho dos colonos e recebia em produtos que vendia ao comércio. Outros vendeiros importantes foram Maximiliano Schubert, Henrique Marquardt, Bernardo Grubba e Georg Czerniewicz.

 

Em 1902 a  Colônia Jaraguá  foi transferida  da “Pecher & Cia “ para seu  administrador , Domingos Rodrigues da Nova Júnior . A partir daí a colônia tomou novos rumos .Já em 1903 o Correio instalou seu serviço , mesmo ano em que se iniciaram os estudos  para a implantação da Estrada de Ferro, que só chegaria no final da década.

 

 Uma população de 1.300 pessoas , das mais variadas procedências  já habitava a colônia em 1904  : italianos, húngaros, austríacos, alemães, poloneses, belgas, franceses, portugueses , suecos e brasileiros .  Nesse ano, completadas as obrigações firmadas com o governo de Santa Catarina, a “Colônia Jaraguá” passou a ter administração direta de Joinville, encerrando-se o contrato com Rodrigues da Nova .

 

Por essa época existiam na região,  a Estrada Principal de  18 quilômetros  de extensão iniciando na balsa do Itapocu em direção Oeste, até Ribeirão Pedra de Amolar ;  a estrada  Francisco de Pádua que   iniciava  no km2 da Estrada Principal e dava acesso a 32 lotes; a Três Rios , com  2,5 quilômetros , partia do km4 da Estrada Principal e seguia margeando o Ribeirão do mesmo nome , possibilitando o  acesso a mais 28 lotes ; e a Estrada Fundos Jaraguá com  2,5km  . Todas tiveram continuidade, à medida que se expandiam os assentamentos. No início do século, a construção de novas estradas previa a instalação de mais 32 quilômetros , sempre margeando os rios Ribeirão do Cavalo, Poço da Anta, Pedra de Amolar, Cacilda, Alice( parentes de Rodrigues da Nova ) , Braço do Cavalo e Braço Pedra de Amolar( Silva: 422).

 

No ano de 1912, o relatório paroquial estimava em 8 mil habitantes   a população do distrito de Jaraguá .Os trabalhos de implantação da estrada de ferro, no ramal São-Francisco-Rio Negro, continuavam acelerados nos primeiros meses de 1905, alcançando Jaraguá em 1907, chegando a Hansa em 1910 e a Rio Negro em 1913, quando ocorreu  a primeira viagem de trem entre São Francisco e o planalto norte catarinense . A  primeira ponte metálica sobre o Rio Itapocú, foi inaugurada em 1913 e  batizada  com o nome do líder político da região,  Abdon Baptista. Outra, de madeira, construída em 1909, foi levada pela força das águas do rio.

 

Conforme o historiador Ancelmo Schörner( 2000:57) , entre as décadas de 1920 e 1930 , para além da economia de subsistência  que transitava para a pequena indústria  via acumulação de capital a partir do sistema colôniavenda  , outras indústrias  se estabeleceram  essencialmente de bens de consumo , impulsionadas pelo uso da energia elétrica  em muitas áreas da Colônia  desde 1917.

 

Jaraguá  emancipou-se em 1934.  Atualmente constitui-se num município onde atualmente a indústria é a principal atividade econômica  . Desde cedo, ligados aos comércios locais, surgiram queijarias, açougues, fábricas de embutidos e defumados de carne, de banha e de sabão. Muitos dos colonos montaram alambiques, fabricando cachaça, melado e açúcar mascavo. Além disso, as fábricas de carroças e troles, as ferrarias, as serrarias, as olarias, e outras que havia, produziam para suprir o consumo local. Na década de 1920, a indústria começou a se diversificar, ainda muito ligada ao setor de produção primária da região. Surgem indústrias de alimentos, como fábrica de essências e de refrigerantes, utilizando produtos agrícolas da região, como por exemplo, a laranja e a tangerina.

 

 A  década de 1930 marca  mais um passo, com o surgimento de indústrias que utilizavam matéria prima vinda de outras regiões, como malharias e indústria de escapamentos para carros. A indústria, contudo, só se desenvolveu plenamente depois da década de 1950, quando foi solucionada a falta de energia elétrica, com o estabelecimento da linha de transmissão  entre a usina termoelétrica de Capivari de Baixo, no sul do Estado, e Jaraguá do Sul.

 

Em 1940 , o Guia do Estado de Santa Catarina registrou o seguinte: A cidade de Jaraguá do Sul vem se desenvolvendo  rapidamente graças a se achar situada no cruzamento das estradas de rodagem que ligam a cidade de Joinville a São Bento do Sul e a Blumenau, e ainda por ser  o ponto de embarque , em via férrea, da produção do município de Blumenau  destinada aos mercados de Curitiba, São Paulo e Rio. Entre as diversas fábricas , em número de 98, destacam-se as de laticínios , as de banha, as de madeira compensada e essências voláteis. Jaraguá exporta tecidos, essência, queijo, manteiga, arroz, couros, peles, fumo e outros artigos (...) É mais provável que o crescimento e o progresso rapidamente do município de Jaraguá  não se dê só por  sua posição privilegiada como ponto convergente das grandes vias de comunicação inter-municipal  e inter- estadual que permitem fácil e permanente e contato com os portos do Estado e com os grandes centros consumidores e exportadores do país, como ainda pela grande divisibilidade de propriedade existente no município , o que permite a quase todos os chefes de famílias ( em números de mais ou menos 4000) a posse direta de uma pequena propriedade, onde podendo plantar e criar por conta própria lhes são facilmente possíveis   vendas diárias de leite, ovos,frutas, a lavoura mesmo e couros, peles, etc ( Shöerner, citando Alberto Entres , Guia do Estado de Santa Catarina. Florianópolis, 1940) .

 

A partir do final dos anos cinqüenta instalam-se  indústrias do setor terciário, utilizando tecnologia mais avançada . Os anos setenta trouxeram  um grande incremento na industrialização , quando o  setor se diversifica  progressivamente . Essa diversificação, inclusive, fez com que Jaraguá do Sul fosse atingido em menor intensidade pelas crises econômicas que assolaram o Brasil nos anos oitenta e noventa. O município passa a ser o terceiro parque industrial do Estado.

 

Segundo o IBGE, a produção industrial de Jaraguá subiu em 270% entre os anos de 1940 e 1955. A expansão da economia trouxe a instalação de agências bancárias e novos hotéis , restaurantes, escolas, hospitais  . (Silva : 431)

 

Em decorrência do crescimento  industrial , a população de Jaraguá não apenas dobrou rapidamente de tamanho, como se inverteu a histórica distribuição dos moradores, que até a década de 1960 mantinham-se majoritariamente na área rural . A industrialização e a urbanização mudaram rapidamente a geografia da cidade , como o surgimento de bairros, vias pavimentadas, transporte urbano e significativo  crescimento do comércio.

 

Ainda sob o impacto e os efeitos do milagre brasileiro  da década anterior, e apesar da grave crise que sucedeu o boom econômico ,  Jaraguá  passou por  grande desenvolvimento industrial , tornando a cidade atrativa para migrantes que deixavam as zonas rurais em busca de melhores perspectivas  de vida  . Assim, ao mesmo tempo em que postos de emprego proliferavam, mais agricultores  diminuíam suas atividades  agrícolas e iam em busca de trabalho nas fábricas , observa Schörner .

 

A  cidade que  no início da década de 1990   contava com 76.994 habitantes  ,  ao romper o terceiro milênio possuía uma    população de  112.245 habitantes, conforme os censos do IBGE.

 

Schroeder – O Município de Schroeder está localizado ao nordeste do Estado de Santa Catarina, fazendo divisa com os municípios de Joinville, Guaramirim e Jaraguá do Sul. Está situado aos pés do planalto norte e cercado pela Serra Duas Mamas.

 

 Possui 143,818 Km2 de território e 11.378 habitantes, com aproximadamente 50% de sua área localizada em serras, cobertas pelo verde da Matas Atlântica. Schroeder  também abriga, ao norte do município ,  a Estação Ecológica do Bracinho, santuário ecológico encravado no alto da Serra do Mar com 46 milhões de metros quadrados de incalculável valor ambiental.

 

O território do   município  fazia parte do dote da Princesa Dona Francisca, irmã de Dom Pedro II, em virtude do seu casamento com o Príncipe de Joinville. Exilado na Inglaterra, em virtude do movimento que levou seu pai , o rei da França Luiz Filipe a abdicar do trono , passou procuração para Léonce Aubé , para firmar contrato de colonização com o alemão Christian Mathias Schroeder , de Hamburgo . Schroder, pois foi desde o início o nome do pequeno núcleo colonial.

 

Assim, em 1901 chegavam os primeiros habitantes, vindos de colonizações vizinhas, quase todos de descendência germânica, da religião Evangélica Luterana. A colonização foi seguindo mata adentro, pelas margens do Rio Itapocuzinho e depois as margens do Rio Braço do Sul ( S.Thiago, 1983: 43).

 

Também em 1901, Wilhen Köplin adquiriu terras nesta comunidade ( Braço do Sul) , que doou às suas quatro filhas, sendo uma delas a senhora Helena Köplin ( Gneipel) , última a falecer e mãe do senhor Oscar Guilherme Gneipel. Essas terras pertenciam , na maioria, à família Gneipel.

 

No início da colonização do município, na localidade de Rio Hern, havia una serraria e atafona ( moinho de milho) pertencente ao senhor Jacob Pfleger, que atendia a população do povoado . Em 1913 novos colonizadores foram adquirindo terras, ampliando as áreas de cultuvo,abrindo estradas, construindo casas

 

Em 1919, vieram os colonizadores italianos, sendo ainda alguns nascidos na Itália. Anteriormente moravam em Luiz Alves , como foi o caso da família Tomaselli, Cândido, Antônio e João Maria . Seus descendentes nascidos no Brasil , Jerônimo Aníbal e Santos, abriram caminho para que fosse possível o cultivo dessas terras. É com Jerônimo Tomaselli que se põe em funcionamento mais uma serraria na nova povoação, movida à força d’água . Conforme Deliberação Normativa nº 357 da EMBRATUR,atualmente  o município de Schroeder é considerado prioritário para o desenvolvimento do turismo .

 

As atividades foram se diversificando e logo surgiu uma olaria nas proximidades da localidade de Rio Hern . O senhor Gotlieb Stein  fazia comércio a varejo , e a compra de produtos agropecuários também se difundiu. A região prosperava e seu povo passou a reivindicar  novo status político-administrativo, Foi assim que Schroeder tornou-se distrito  do município de Guaramirim . Em 1964 tornar-se ia o Muncípio de Schroeder .

 

Aos 44 anos de emancipação   Schroeder  é conhecida como a “Caminho da Natureza e Aventura”, e começa a cultivar o Turismo Rural e o Ecoturismo que ganham força na região. O município  possui grande área de Mata Atlântica preservada com grande incidência de animais silvestres, cachoeiras, rios de águas límpidas e uma diversidade vegetal impressionante .

 

A economia do município , entre outros meios, é baseada no plantio, cultivo e produção de banana. Conforme Deliberação Normativa nº 357 da EMBRATUR,atualmente  o município de Schroeder é considerado prioritário para o desenvolvimento do turismo.

 

Massaranduba  – Por volta de 1872 estabeleceram-se na localidade de Massaranduba   os primeiros colonos, quase todos de origem germânica . Mais tarde chegariam os italianos. Sua colonização sempre esteve muito vinculada ( como tantas outras ) com a Colônia Blumenau. A localidade, dada a fertilidade das terras cresceu rapidamente e já em 1921 passou a ser distrito de Blumenau. Havia, então, dois distritos .  Em 1948 tornou-se município, com terras tiradas de Blumenau, Itajaí e Joinville.

 

Guaramirim -A colonização de Guaramirim  foi uma ramificação da colonização dos municípios vizinhos de Jaraguá do  Sul e de Blumenau . Em 1919 tornou-se distrito de Joinville e depois de Massaranduba .  Sua história está muito ligada à de Massaranduba , onde ficou a sede do município até 1949, quando os papéis se invertem  e a sede do município é transferida para Guaramirim . Somente em 1961 as duas localidades foram separadas, com a criação do município de Massaranduba ( S.Thiago,1983: 47).

 

 

 

 

 

Patrimônio

 

 

 

 São Francisco do Sul  - Quase 500 anos de História, marcam  suas ruas, casas, igrejas, sambaquis, ruelas e becos. A Igreja Matriz Nossa Senhora da Graça, em várias etapas , foi  construída por escravos, milicianos e pelo povo do lugar, com argamassa feita de uma mistura de cal, concha, areia e óleo de baleia. No interior da igreja está a imagem da padroeira, que data de 1553 e foi deixada ali pelos espanhóis, que ergueram uma capela em homenagem a ela depois de serem salvos de um temporal.  Também há estátuas barrocas dos séculos XVII e XVIII e um órgão trazido do Rio de Janeiro em 1823 e que é utilizado até hoje.

 

 Compõem o Patrimônio Histórico da cidade  cariocas (bicas d'água), o Museu Histórico, o Museu Nacional do Mar, único do Brasil e que abriga exemplares e réplicas regionais de embarcações do litoral brasileiro, além de instrumentos, documentos, aparelhos de orientação naval, equipamentos, mapas, miniaturas, cenários, o Mercado Público Municipal , entre as cerca de 150 edificações tombadas pelo IPHAN. 

 

Acerca desse indiscutível patrimônio , assim se expressa   o arquiteto e professor Dalmo Vieira ( 2004) : se a natureza é exuberante, composta de ilhas, praias, dunas, mangues, florestas e lagoas, o patrimônio cultural de São Francisco do Sul não fica atrás: a cidade mais antiga de Santa Catarina possui riquíssimo acervo de sítios arqueológicos, manifestações  da cultura imaterial, arquitetura histórica e urbanismo. Apesar de todos estes atributos, seus méritos não se encerram no passado. A cidade está vocacionada para o futuro. A tranqüilidade de sua paisagem, a relação direta com o mar, o valor histórico da malha urbana e da arquitetura são alguns dos fatores que convergem para uma cidade mais humana, relacionada com a natureza e com a cultura(...). 

 

O centro histórico de São Francisco do Sul teve seu tombamento efetivado em meados da década de 1980 e mais tarde a cidade foi incluída no Programa Monumenta/BID, após uma disputa com mais de cem cidades brasileiras, incluindo todos os centros históricos nacionais e conjuntos urbanos de várias capitais. A isto se deve a restauração de prédios públicos e privados . Investimentos estratégicos foram propostos e executados justamente quando se comemoraram os 500 da viagem do capitão de Goneville , um dos mitos fundadores da cidade . ( Vieira:201)

 

 

 

Região de imigração européiaO patrimônio histórico material e imaterial , da região de imigrantes, principalmente alemães , italianos e poloneses, com todo o seu potencial de manifestações vivas, era desconhecida até cerca dos anos 1970, quando começou a preocupar historiadores, arquitetos , antropólogos, arqueólogos e tantos outros cidadãos preocupados e cientes de que enfrentaríamos um tempo de grandes mudanças, e, portanto, seria necessária a proteção desses bens, na direção da  identidade cultural e social dos seus habitantes.

 

 

 

Em 1984 houve um encontro, em São Francisco do Sul , Subsídios para uma política de preservação do patrimônio catarinense  , cujo objetivo era reunir os órgãos federais, estaduais e municipais para definir programação conjunta de atuação na área de preservação cultural no Estado de Santa Catarina . Reconhecia-se que a diversidade desse patrimônio , que vai das ruínas bandeiristas ao legado do imigrante europeu, sua ocorrência preponderantemente rural, número elevado de bens e fragilidade das construções tornaram difícil a adequação de uma política de preservação que pudesse convenientemente proteger esse patrimônio .

 

 

 

Torna-se necessário, pois, que ao realizar-se a sonhada modernização, assim como a duplicação de rodovias , tão esperada por todos, siga-se  sua  dentro dos princípios do desenvolvimento auto-sustentável , motivo maior deste Relatório .

 

 

 

 

 

Referências

 

 

 

Costa Pereira , Carlos da. História de São Francisco do Sul. Fpolis/S.Francisco do Sul: UFSC/Prefeitura Municipal de São Francisco do Sul, 1984.

 

 

 

Piazza, Walter Fernando . A Colonização de Santa Catarina. Florianópolis: BRDE, 1982. 

 

 

 

Reis, Maria José. Uma história bem mais antiga : ocupação pré-colonial. In : In:  São Francisco do Sul: muito além da viagem de Goneville .Florianópolis: Ed. da UFSC,2004.

 

 

 

Rocha, Isa de Oliveira. Industrialização de Joinville SC: Da Gênese às Exportações. Florianópolis [s.n.],1997

 

 

 

Saint-Hilaire, Auguste de. Viagem a Curitiba e Província de Santa Catarina. São Palo: Editora da USP, 1978

 

 

 

Santos, Silvio Coelho  dos : Reis , Maria José ; Aneliese Nacke.   Organizadores . São Francisco do Sul: muito além da viagem de Goneville – Bien au dela Du Voyage de Goneville. Versão para o francês Rosa Alice Mosimann, Florianópolis: Ed. da UFSC,2004.

 

 

 

 

 

Silva, Emílio. Jaraguá do Sul- A Povoação do Vale do Itapocu. Org. Apolinário Ternes. Jaraguá do Sul , 2005.

 

 

 

 

 

Shörner, Ancelmo. O Arco-Íris Encoberto – Jaraguá do Sul, o trabalho e a história: operários, colonos-operários e faccionistas. Joinville , SC: Oficina Comunicações, 2000.

 

 

 

 

 

Sousa, Edinelson. Reconstruindo Nossas Memórias – Pequeno Histórico de Balneário Barra do Sul. Bal. Barra do Sul: Prefeitura Municipal, 2002.

 

 

 

S.Thiago, Raquel . As Múltiplas Histórias da Ilha e Arredores . In:  São Francisco do Sul: muito além da viagem de Goneville .Florianópolis: Ed. da UFSC,2004.

 

 

 

____________ . Aspectos Históricos da Região de Joinville. In: Projeto Ação Integrada Comunidade Escola . Coordenação Mariléia Gastaldi

 

Machado Lopes . Joinville: FURJ, 1983.

 

 

 

_____________Coronelismo Urbano em Joinville. Florianópolis: Edição do Governo do Estado de Santa Catarina, 1988

 

 

 

Ternes, Apolinário. História Econômica de Joinville. Joinville:Meyer, 1986

 

 

 

Vieira Filho, Dalmo . Passado e Futuro: uma cidade e seu patrimônio. In: São Francisco do Sul: muito além da viagem de Goneville .Florianópolis: Ed. da UFSC,2004.

 

 

 

 

 

Meio Eletrônico

 

 

 

https://www,araquari.com.br/11k

 

https://www.schroeder.com.br/documentos/historia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A DENOMINAÇÃO  INDÍGENA DA BAÍA DE S.FRANCISCO

Carlos da Costa Pereira 


 

“Babitonga”, ou coisa parecida  que veio, por alteração linguística, a cristalizar-se na forma que predominou, foi o nome que os índios destas paragens  deram à Baía .

 

O documento cartográfico mais antigo que traz, pela primeira vez, dessa denominação com a grafia “Bepitanga” é, segundo acreditamos, o mapa do Paraguai (1646-1649) , organizado e oferecido pelos jesuítas ao Revmo.Pe. Vicente Carrafa, Geral da Companhia de Jesus. A Estée, segue-se o mapa da América Meridional (1688), de autoria de Marco Vicenzo Coronelli, cosmógrafo da sereníssima República de Veneza, que dá ao topônimo a forma “Bapitanga”.

 

A verdade é que o nome indígena caiu no agrado de todos, acentuadamente a partir  dos meados do século XIX. Frederico Brüstlein, diretor da Colônia Dona Francisca, organiza uma empresa de navegação entre Joinville e São Francisco, e a denominação que lhe ocorre impor ao primeiro vaporzinho – “ o vaporzinho de Joinville”, como lhe chamavam geralmente – é o da baía; enriquece-se o lar do tabelião da comarca e o nome que na pia batismal recebe o recém nascido é Antonino “Babitonga”; vem à luz da publicidade um semanário que se inculca “órgão imparcial, literário e noticioso”, e o titulo que figura no cabeçalho é “Babitonga”; funda-se uma sociedade musical e seu nome não poderia ser outro senão “Babitonga”, estabelece-se uma fábrica de cigarros e a marca do produto será indefectivelmente “Babitonga”. E “Babitonga” é o nome da nossa rua principal e ainda de uma marca de camarões em conserva.

 

Mas o aproveitamento do topônimo como designativo de seres e coisas não ficou circunscrito ao local. Certo dia, manda o porto um novo navio transatlântico da Hamburg Sud – Amerikanische Dampferschiffahrts  - Gesellschaft, e o nome em caracteres dourados e vem visíveis que, para o encanto e orgulho de nossa gente, ele trazia em ambos os lados da proa e na popa,era...”Babitonga”. Em 1808, nasce um tigrezinho no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, e sendo “padrinho” do felino e nosso conterrâneo Agenor Carvoliva, lembra-se este de pôr-lhe o nome de “Babitonga”. E ainda recentemente, porque São Francisco se arrola entre os portos estratégicos da costa brasileira, deram a denominação de “Babitonga” a um caça – torpedeiros  da nossa frota de guerra.

 

Circundada de montanhas com um imenso lago, semeada de pequenas ilhas, orlada de praias alvíssimas e espelhando com infinito encanto, nos dias de sol, o azul profundo dos céus, teria ela, certamente, de inspirar os poetas que nasceram ou viveram em sua margem.

 

Benjamim Carvalho e Júlia da Costa consagraram-lhe versos ditirâmbico, e João Policarpo Machado da Paixão, em 1880, dedicou-lhe um poemeto em redondilha menor, que começava com a seguinte quadra:

 

‘Gentil Babitonga

 

Pátria dos Camachos

 

Vistosas palmeiras

 

Com pendentes cachos”

 

 

 

Ali apareciam alvas arapongas, lindos gaturamos, pavões e tucanos, dourados surucuás, negros araquãs, azuis tangarás, joões e inhambus, tristes juritis, alegres siriris, brancas açucenas, esbeltas morenas, tudo a cantar em coro as belezas da Babitonga...

 

 

 

Passados muitos anos, outro poeta, o nosso querido amigo Arnaldo S.Thiago, também tange a sua lira em louvor da maravilhosa baía...Depois de referir que a brisa murmura, o sabiá canta, o pirilampo confessa e as flores proclamam-se a formosura, assim termina o aedo conterrâneo:

 

 

 

“Digamos também agora

 

Em verso embora senil:

 

Não há baía mais bela

 

Que a Babitonga gentil”

 

 

Mas, finalmente, que poderia significar na linguagem dos carijós o vocábulo “Babitonga”? Tupinólogos e fantasistas lançaram-se, à porfia, nessa indagação e descobriram-lhe os mais variados sentidos: “filho de morcego”, diz um, “cobra coral”, aventa outro; “a vermelha”, opina este; “terra bonita”, pontifica aquele; “lugar contornado pelas águas”, ou “lugar das pitangueiras” ou “lugar onde há muito bicho de pé”, sugere, a granel, aqueloutro.

  

Em face de tantas e contraditórias interpretações, lembrou-se alguém, espirituosamente, de trazer a sua achega para a solução do problema linguístico, contando a seguinte história: Levava o professor de uma universidade da Grã-Bretanha vida atormentada – verdadeira vida de cachorro – na companhia da mulher, que tinha cabelo na venta e passava todo o tempo a deblaterar. O pobre homem manifestava as suas mágoas aos colegas mais íntimos, e estes, penalizados, resolveram cotizar-se e propor-lhe uma viagem de estudos à América do Sul. E assim veio o scholar parar em São Francisco, de onde, maravilhado com a extensão da baía, sem mais tardança, enviou aos amigos suas impressões, terminando a carta com estas palavras: “Is largue as Baby’s tongue, but much delighful” , isto é, que a baía era mais deleitável que sua cara metade”. 

 

Certa tarde, porém, numa das suas habituais excursões, em canoa tripulada por nativos, foi apanhado por violento temporal. O mar enfurecera-se e, através da ventania e dos trovões, tivera o professor a impressão de estar a ouvir os berreiros e os impropérios da mulher, de quem já pouco se lembrava, graças à distancia e às distrações que lhe proporcionava o estudo da natureza subtropical. E mais indignado por essas dolorosas recordações do que atemorizado com a fúria dos elementos, começou a vociferar para as ondas, que turbilhonavam e parecia quererem tragar a embarcação:

 

                      - Baby’s tongue ! Baby”s tongue!

 

Amainada a tempestade, conseguiram  os canoeiros aproar para  terra, e já na praia, o inglês ainda iracundo, de punhos cerrados, continuava a gritar para a imensa massa líquida, cujas ondas espumantes lhe vinham lamber os pés:

 

- Baby’s tongue! Baby’s tongue!

  

Desde então, começaram os nativos a dar à baía o nome de “Beibistongue “ , que , com o tempo, se transmutou em “Babitonga”.....

 

              

 

                                                  São Francisco, 1960.

 

 

 

 In: Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina nº 7 – 3ª fase ( 1986/1987)

 

 

 

                                     BAÍA  BABITONGA

Octávio da Silveira

 

Sob a amplidão de um céu sempre azul e diáfano, estendem-se as águas da nossa encantadora baía,  no vai e vem incessante e eterno de suas cantantes maretas.

Desde de recuados tempos, o maravilhoso cenário contemplado diariamente pelos carijó, primitivos moradores de suas ribas e praias, tocou indelevelmente seu íntimo. Dessa admiração e entusiasmo pelo espetacular panorama, nasceu a denominação “Babitonga” como até hoje é conhecida e admirada.

Dizem os conhecedores do tupi-guarani, língua falada pelos referidos selvagens, ser este topônimo corruptela de uma das seguintes expressões: mboy-pitang ou ibi poranga . Quanto à tradução, afirmam que deve significar – lugar das pitangueiras, lugar contornado pelas águas ou terra bonita. Todas estas pitorescas expressões falam e lembram o encanto, espécie de devoção dos índios pelas paisagens ricas e deslumbrantes da formosa região em que hoje vivemos e que outrora foram de sua posse durante séculos.

O homem branco e civilizado que primeiro viu estas paragens  foi em 1504, Binot Paulmier de Goneville e a primeira embarcação , cuja proa cortou suas plácidas águas, foi a do pequeno veleiro “Espoir” , sob o comando deste navegador francês.

Mais tarde, em 1515, o expedicionário espanhol João Dias de Solis aqui aportou no dia onomástico de São Francisco, ocasião em que a  batizou com o nome  deste extraordinário frade nascido em Assis.

No começo, diante deste vasto braço de mar, os expedicionários julgaram tratar-se de um rio e como tal, assim o registraram nos roteiros da época. Os indígenas o conheciam por Babitonga, os espanhóis por rio São Francisco  e os portugueses por rio dos Dragos.

Foi Alonso de Santa Cruz, cosmógrafo que acompanhou a expedição do veneziano Sebastião Caboto, ao por aqui passar em 1526, quem a definiu geograficamente, afirmando tratar-se de vasta baía e não rio.

No ano de 1519, em Sevilha, o licenciado Martin Fernandez de Enciso, publicou obra na qual fazia referência a São Francisco, naturalmente à entrada do rio.

O verdadeiro nome carijó da nossa baía , pela primeira vez aparece em mapa, do padre M.Coronelli, 1688, porém grafado – Babitonga – e sua barra, mais uma vez , em 1519 era assinalada em mapa feito por Visconte Maiollo , pelo nome dado pelos portugueses, rio dos Dragos.

Em trabalho cartográfico, datado de 1523 e de autoria de Turim, a entrada norte da baía figura como de São Francisco, aparecendo, assim, pela primeira vez sob esta denominação. Mas recentemente, entre os navegadores costeiros, a entrada do nosso porto era chamada – barra grande – e também, barra do norte. Ela demora na latitude de 26º e 10º para a direção do nordeste.

É a nossa Babitonga considerada a mais profunda, segura e encantadora baía do sul do país e do continente. Para concorrer com ela, sem a ação do homem, desde o rio da Prata, somente as baías de Salvador e Guanabara.

Navegadores célebres, assinalados serviços à civilização, singraram em época diversas suas águas. Uns, explorando ou reabastecendo as expedições sob seu comando: outros procurando para as respectivas frotas, bonançosas e firmes,  abrigos.

Binot de Goneville, Dias de Solis, Américo Vespúcio, Cristovam Jacques, Sebastião Caboto, Sanabria, Cabeza de Vaca, Gabriel  Soares de Souza e tantos outros denodados desbravadores dos mares desconhecidos de outrora, visitaram e admiraram-na.

Os que as procuram fugindo do rigor das procelas sentem-se seguros, garantidos pela sua afortunada posição geográfica e os visitantes, principalmente os estrangeiros, ficam deslumbrados ante grandiosidade de seus aspectos naturais.

À nossa admirável baía, se ajustam conceitos que sobre a linda Guanabara teceu ilustre escritor: “pontos do universo, onde a mão do Criador parece haver se esmerado em reunir maior número de belezas, acumulando neles tudo quanto possa encantar os olhos e arrebatar o espírito”.

O vate francisquense, Arnaldo S.Thiago, sincero enamorado das suas belezas, assim a cantou nas fulgurantes estrofes que abaixo se seguem:

 

 

Nas arcadas majestosas

Das florestas do Brasil

Murmura a brisa que passa

A Babitonga é gentil.

 

Em seu trinar mavioso

Nas belas tardes de abril

O sabiá também canta

á  Babitonga gentil

 

E à noite quando as estrelas

Perpassam no céu de anil

Refletem elas seu brilho

Na Babitonga gentil.

 

Nos campos moram contentes

Os pirilampos aos mil

E todos eles confessam

Que a Babitonga é gentil


As flores que desabrocham

Reclinadas sobre o hastil,

Dizem umas para as outras

A Babitonga é gentil

 

Digamos também agora,

Em verso embora senil:

Não há Baía mais bela

Que a Babitonga é gentil.


Fonte: Museu Histórico de São Francisco do Sul


A CAPELINHA DO MORRO DO HOSPÍCIO

 

Octávio da Silveira

 

Ao tempo da então vila de Nossa Senhora da Graça do Rio de São Francisco do Sul, o morro situado bem ao centro da mesma e que depois veio a chamar-se Hospício, pertencia ao Conselho de vila, fazendo parte, portanto, do patrimônio real português .

 

No ano de 1681, Isabel da Cunha, viúva de um dos povoadores primeiros, teve a piedosa iniciativa de mandar edificar à sua custa, cimo do referido morro, uma capela de pedra e cal distante cinquenta braças da igreja matriz.

 

Logo que a construção ficou pronta, foi festivamente dedicada à invocação de São José, o patriarca glorioso, passando a nela realizarem-se também ofícios religiosos.

 

O nome de Hospício, até hoje conservado, provem do fato de, em dependências da referida capela, residirem frades franciscanos, na época aqui doutrinando entre os índios e carijó.

 

Mais ou menos em 1751, fundando-se entre os moradores da pequenina vila a Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, no ano seguinte conseguiu esta, a doação do morro, feita pelo bispo do Rio de Janeiro. Logo em seguida a Venerável Ordem iniciou démarches para também obter doação da capela, o que conseguiu em 1755, após ingentes esforços, com a condição de ser conservada e defendida pelos franciscanos até o fim do mundo.

 

No correr dos anos a igrejinha manda construir por Isabel da Cunha foi muitas vezes reparada e uma, sequestrada pelos piratas. Lá pelo ano de 1783, sendo precário o seu estado de conservação e não havendo recursos para os consertos que se faziam mister, os últimos frades que lá moravam foram recolhidos ao convento, e a mesma abandonada.

 

Os vereadores da Câmara da vila de São Francisco do Sul, no ano de 1822, em ofício aos integrantes do Governo Provisório, no Desterro, pediam que o morro do ofício fosse fortificado como medida preventiva contra a ameaça de desembarque estrangeiro, principalmente dos castelhanos.

 

Passados anos, ante o estado de ruínas da referida capela, foi a mesma demolida e em seu lugar dado início a outra, de maiores dimensões. Em 1863 as obras prosseguiam com morosidade, razão pela qual as autoridades trataram de apressar o seu término. Falam-nos as crônicas que ao concluírem o arco central , o mesmo apresentou logo sem seguida enorme fenda. Três vezes foram feitos consertos e três vezes a rachadura persistiu, o que levou a abandonarem a construção.

 

Antigamente, quando ainda existiam no morro as grossas e enegrecidas muralhas do templo inacabado, constituía agradável passeio, subir e lá do alto dos seus 43 metros acima do nível do mar, descortinar as belezas naturais da nossa terra e mui especialmente, da sua majestosa e inigualável baía.

 

Estas lendárias muralhas foram demolidas em 1921, quando superintendente desta cidade , o Dr. Eugenio Muller.

 

A Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência e Hospital de Caridade, proprietária do referido morro, em 1912 vendeu pela quantia de oitenta contos de reis ao Dr. Abdon Batista, médico, político e titular da firma comercial A.Batista & Cia.; com filial nesta.

 

Mais tarde, em 1916, foi o mesmo morro transferido por venda à Brasil Raiwail , truste formado por capitais estrangeiros e ao qual pertencia a Cia. Estrada de ferro São Paulo – Rio Grande, proprietária da linha férrea desta cidade à de Porto União.

 

Quando do governo Getúlio Vargas, por decreto federal , foi o patrimônio de grande parte das estradas de ferro do Brasil encampadas pelo governo federal, inclusive o da referida São Paulo – Rio Grande.

 

Mais ou menos em 1955 ou 1956, diversas glebas da mesma aqui localizadas e então administradas pela Superintendência das Empresas Incorporadas ao Patrimônio da União, foram vendidas a Mário B. Robaina.

 

O morro do hospício, parte integrante da venda acima foi, em 1967, adquirido por compra por Celso S. Pessoa, que até os dias presentes ainda é seu proprietário.

 

Octávio da Silveira

 

Fonte: Museu Histórico de São Francisco do Sul.

 

 

 

PALESTRA DE ABERTURA NO ENCONTRO DA FAMÍLIA S.THIAGO EM 12 DE JUNHO DE 2009

Proferida por Raquel S.Thiago

É com emoção que inicio a minha fala para a grande família S.Thiago , neste espaço do Cine Teatro X de Novembro,  no local   onde  estive tantas vezes  , desde minha infância , ou para assistir uma peça de teatro , um filme , eventos , enfim... Este sempre foi um espaço querido e familiar para mim, já que foi inaugurado exatamente ao tempo da minha adolescência  e.... um detalhe:  com a exibição do filme Carmen, tendo como protagonista a atriz Rita Hayward . Mas este lugar  evoca também um passado de que não participei mas que muito me orgulha . Penso , então, no vovô Quincas  ele que foi um dos pioneiros da arte de representar  na antiga São Chico ,   desde o antigo teatrinho da rua da Graça.  Então vejo, neste momento , em que ocorre a abertura  desta grande reunião dos S.Thiago , uma celebração à  herança cultural e espiritual  deixada pelo casal  de mestres Joaquim e Clara Almeida de S.Thiago .

Desde o dia em que fui incumbida da tarefa  de historiar  um pouquinho sobre São Francisco , não parei de pensar  que assunto iria privilegiar  para  esta apresentação  tão significativa  para mim.

 Procurei escolher um tema que tivesse algum significado -  ainda que simbólico -  para  este evento que nos reúne aqui, neste dia  12 de junho de 2009, para nos conhecermos e festejarmos nossas raízes identitárias ,  neste momento traduzidas  no sobrenome S.THIAGO.

 Falar da família S.Thiago é também falar da história de São Francisco. Quantas realizações no campo da educação, da doutrina espírita ,do trabalho social , do voluntariado ,  das letras,  da política  estão entremeadas nessa  história .Mesmo aqueles que desempenharam  papéis anônimos e não nos vêm à lembrança como um político, um professor , um escritor -  centenas de S.Thiago -  aqui nasceram, viveram, criaram seus filhos estavam ou estão entre os  atores sociais que formam o tecido sócio-histórico de São Francisco do Sul.

Foi  nesta perspectiva  que escolhi para o início  desta fala , os mitos fundadores desta cidade , ou seja aquelas passagens da história que mesmo no presente, impõem um vínculo interno  com o passado como origem .

Testemunha de primeira hora das incursões portuguesas e espanholas em terras brasileiras, São Francisco do sul apresenta uma história fascinante, como é próprio das histórias de ilhas . Mistérios e lendas costumam habitar os primeiros capítulos dessas terras envoltas em mares. Em São Francisco, os primeiros convocados para esta composição lendária e misteriosa foram Goneville, Arosca e Içá-Mirim. O primeiro encontro entre europeus e os carijó.

Outros personagens, no entanto, compareceram ao processo de ocupação e colonização de São Francisco explorando, descrevendo, mapeando a região e, por fim, realizando sua colonização. O contexto da época se compunha de espanhóis de um lado e portugueses  de  outro na disputa por terras ao sul do continente americano .

Resolvi, então, trazer para este dia , alguns desses mitos que movimentam-se na hierarquia histórica . Como instrumento, sirvo-me do brasão da cidade .

Devo dizer que esta apresentação só me foi possível  porque - Manoel Deodoro de Carvalho – o seu  Neco –  proprietário da Farmácia Minerva e dado às letras e à História   deixou-nos , entre outras passagens, as informações necessárias para falarmos deste brasão.

Slides  seguintes

Peça principal – uma nau portuguesa quinhentista com  seu velame desferrado, recorda a chegada às águas da  Babitonga, das esquadras portuguesas , exploradoras da costa brasileira .

5 escudetes – recordam as circunstâncias da fundação de São Francisco.

 

O primeiro  escudete recorda a estada em São Francisco, em 1540, do famoso adelantado Alvaro Nuñez Cabeça de Vaca, cujo brasão de família aí se reproduz.

Nesse  mesmo escudete ainda há uma referência à estada, em São Francisco, ou em suas proximidades, em 1504,  de Binot Paulmier de Goneville ,  a flor de lis do brasão da cidade de Honfleur.

Essomeric – Como explicar que Arosca tenha consentido, de bom grado em deixar partir seu filho e que os dois índios  ( Essomeric e Namoa )  se tenham deixado levar tão facilmente?

E aqui nos permitimos imaginar : os carijó tinham uma cultura centrada na busca da “ terra sem mal “ . Essa crença  numa vida melhor em outro lugar, que se poderia atingir vivo ou morto , tornava-os especialmente desapegados de seu lugar e de sua vida cotidiana , e predispostos à passagem a uma outra vida. Quem sabe eles acreditassem estar a caminho da terra sem mal .....

Importante lembrar que, ao homenagear os fundadores, o brasão não contempla  os índios carijó . Este brasão foi feito num tempo em que pouca importância se dava aos nossos indígenas  . Hoje, no entanto, não podemos deixar de mencioná-los  como parte da nossa história e também parcela dos nossos antepassados .

 

O segundo - as armas da família Senabria recordam a tentativa frustrada  da Espanha  de  povoamento de São Francisco  , em 1549 ,por  Juan e Diego Senabria   por ordem do Imperador Carlos V.

O báculo  - que se nota no escudete recorda a existência do primeiro francisquense e catarinense ilustre Hernando de Trejo y Senabria, filho de Hernando de Trejo e Maria de Senabria , nascido em S.Francisco em 1554. Foi  bispo de Tucuman e fundador da Universidade de Córdoba na Argentina .

 

O terceiro  – o maior, traz as armas de Pero Lopes de Souza, primeiro donatário de Santa Catarina, investido  por D.João III, como senhor das terras de Santa Ana, antiga denominação das terras  de Santa Catarina.

 

O quarto -    acima ,   as três vieiras dos Fernandes e recordam Antônio Fernandes , o primeiro  povoador  que obteve sesmaria para  povoar a vila.  Abaixo cabeças de serpes dos Andrades, que relembra a fundação da Vila por Manoel Lourenço de Andrade.

 

Manoel Lourenço de Andrade – por volta de 1658 – após alguns ensaios de colonização . A fundação do povoado , em 1658, conferiu a São Francisco o lugar  de primeira vila fundada na então Capitania de Santo Amaro e Terras de Sant’Ana .

 

O quinto – contém a cruz dos Rodrigues evocando a Luiz Rodrigues Cavalinho , genro e companheiro de Andrade, e as aspas com a flor de lis dos Pires numa menção  ao Desembargador Rafael Pires Pardinho que reorganizou os negócios judiciários e administrativos da vila .

 

Na coroa mural por cima da porta central - outro escudete encerra as chagas de S.Francisco de Assis e o resplendor das mãos, atributos de Nossa Senhora da Graça, padroeira da cidade e município.

 

Como tenentes ( guardiães)  do escudo – à esquerda , um bandeirante vestido de seu característico gibão de armas, recorda a atuação das bandeiras de S.Paulo a que se deve o definitivo estabelecimento de S.Francisco.

 

À  direita  um conquistador espanhol, revestido de armadura completa, de acordo com um modelo da Armeria Real de Madrid, rememora as tentativas castelhanas de apossamento do território francisquense.

 

No listel – se inscreve a divisa “Sou a atalaia praiana do Brasil – In Litore pro Brasilis vigil  , caracteriza o fato de que São Francisco foi realmente, durante largos anos  a guarda avançada do Brasil .

 

Este é o Brasão oficial. No entanto, gostaria de registrar a presença e a participação dos índios carijó em todo este processo, e ignorado na composição deste brasão. Na verdade, na época em que foi criado, pouco importância dava-se aos indígenas como co-fundadores do novo Brasil .

 

Com tanta história , não posso deixar de mencionar aqui , os dois maiores símbolos atuais de São Francisco : a Baía da Babitonga e o Porto .

 Abrigando uma guirlanda de ilhas e um porto natural, a Baía da      Babitonga  vem promovendo encontros entre homens e culturas através dos séculos. Mãe  dos pobres é como os antigos a chamavam para designar seu significado na luta pela sobrevivência . De fato, o porto seguro, a abundância de peixes e aves proporcionados pela riqueza em manguezais e alagadiços, o verde e as boas terras das suas ilhas, fizeram da Babitonga o centro da vida de São Francisco .

A posição estratégica de abrigo e a comunicação com o continente integram sua história ao mundo terrestre que a rodeia .

Nesse ponto, na condição de joinvilense , mas francisquense  por força dos meus antepassados  e de doces lembranças de infância e adolescência , construídas ao longo das férias que eram integralmente passadas aqui, ressalto  o papel importantíssimo desempenhado por São Francisco na colonização e desenvolvimento de Joinville , tanto pelos dotes  naturais, a baía e o porto, como pelos cidadãos.

A força simbólica de um porto nos remete a sonhos, esperanças ou desencantos . Um porto é um lugar de chegada, mas também de partida, de alegria e de tristeza. O porto de São Francisco foi, antes de tudo, um ponto de encontro entre culturas, desde que, no século XVI, europeus ali aportaram , atraídos por suas águas profundas e abrigadas .

Na primeira metade do século dezenove, ali desembarcaram os franceses do Saí . Pretendiam fundar naquele local  um falanstério  para realizarem o sonho de uma vida mais digna e mais justa longe da conturbada França . Fugiam do capitalismo e pretendiam realizar uma experiência aos moldes do socialismo utópico de Fourier.

Nove anos após começavam a chegar  no porto de São Francisco milhares de imigrantes europeus , principalmente dos  reinos germânicos e da escandinávia. Sua utopia : uma vida melhor no Novo Mundo . Sua realidade: o capitalismo. Chegaram para fundar, em 1851, o Colônia Dona Francisca, futura Joinville .

São Francisco foi, talvez, a primeira paisagem brasileira para a maioria desses imigrantes.  Rodowicz , em seu relato, diz assim: “A admiração não tinha fim . Cada pessoa, cada árvore, cada pedra provocava exclamações. Tão boa impressão as margens davam aos passageiros , quanto maior foi a surpresa agradável  ao avistar-se a cidade. Foi um dia de festa para São Francisco e não foi em vão que os passageiros se enfeitaram , e já a população pôs roupa  de domingo , as damas enfeitadas esperavam, como era costume da terra, atrás das cercas e venezianas abertas , para oferecerem ramalhetes de flores às nossas damas em sinal de boas vindas “.

Essas boas vindas profetizaram as  relações entre São Francisco e Joinville. Em meio à Mata Atlântica , com boa parte do seu território no sopé da Serra do Mar , a Colônia ( futura Joinville ) , apesar dos revezes iniciais, contou com a disposição e o empreendedorismo de alguns dos negociantes e empresários. Encontraram na madeira e na erva-mate  as atividades que proporcionariam o grande impulso econômico verificado em Joinville nos últimos anos do século dezenove e início do vinte.

A conjugação inicial de fatores como a abundância de madeira e da erva-mate proveniente da região e do planalto, a conclusão da Estrada Dona Francisca, o Rio Cachoeira e, principalmente, o Porto de São Francisco, fizeram nascer, entre as duas cidades, uma teia de relações econômicas e políticas com peso bastante para promover interessante impulso econômico, cujos reflexos atingiriam São Bento do Sul, Mafra, Rio Negrinho e Campo Alegre.

No decorrer da sua história São Francisco adquiriu traços especiais. Seu cotidiano é enriquecido pelo vai-e-vem de navios das mais diversas nacionalidades, de caminhões de carga, de contêineres, do trem.  Pode-se dizer que a história de São Francisco confunde-se com a história do seu porto. Antes da ligação com o continente, por ali chegaram portugueses, espanhóis, árabes , alemães, nórdicos e tantos outros que, misturados aos Carijó e africanos, formaram o povo francisquense e suas peculiaridades .            

Se a natureza é exuberante , se seu povo tem as raízes fincadas na colonização, o Patrimônio cultural ( material e imaterial ) de São Francisco não fica atrás : a cidade mais antiga de Santa Catarina possui riquíssimo acervo de sítios arqueológicos, manifestações da cultura imaterial e arquitetura histórica . Mas, como escreveu  em 2004,  o arquiteto Dalmo Vieira Filho ,    o grande idealizador do Projeto Monumenta em São Francisco, : “ a  cidade está vocacionada para o futuro.

“A tranqüilidade da sua paisagem , a relação direta com o mar, o valor histórico da malha urbana da arquitetura são alguns dos fatores que convergem para uma cidade  mais humana, relacionada com a natureza e com a cultura. Estes atributos não são inerentes apenas ao patrimônio secular que São  Francisco do Sul acumula .  São também grandes predicados  em termos do que a cidade será e dos confortos e vantagens que proporcionará aos seus cidadãos de hoje e aos de amanhã” ( In: São Francisco do Sul – Muito Além de Goneville ).

Em contrapartida , o funcionamento das unidades industriais instaladas em São Francisco nos últimos anos , ou de outras que poderão vir a se instalar no município , gera impactos socioambientais nem sempre mensuráveis ou neutralizados em sua totalidade, apesar dos estudos e Relatório de Impacto Ambiental exigidos por lei.

A Baía  da Babitonga vem suportando há anos os efeitos da poluição originária , principalmente do pólo industrial de Joinville. A circulação  das águas da Baía  foi comprometida com o fechamento do Canal do Linguado, ainda nos anos trinta.  Há também a possibilidade de desastres ambientais , considerando-se  as cargas perigosas transportadas pelos navios que chegam ao Porto e a existência do Terminal Marítimo para recebimento de petróleo .

Neste contexto , sigo as palavras da antropóloga Anelisiese Nacke, que de acordo com  em seu olhar ,  o maior desafio a ser enfrentado pela cidade ,  sem dúvida , será o de garantir  a qualidade do meio ambiente que o município apresenta, mas também equacionar , com urgência, os problemas socioambientais existentes. ( In: São Francisco – Muito além da Viagem de Goneville ) .

 

 

 

São Francisco do Sul: Ilha de sonhos e tradições
 Allysson Sergio Vieira

 

A Lenda da Carroça sem Cavalo

Nas noites de inverno, quando o frio nevoeiro que vinha do mar descia sobre a cidade, as pessoas que moravam em uma certa rua de São Francisco, eram acordadas nas altas horas da madrugada, com o barulho de uma inconveniente carroça.

Essa carroça se locomovia de forma tão lenta, que os moradores, já irritados, levantavam-se de suas camas para verificar o que estava acontecendo.

Quando abriam as janelas de suas casas para espiar quem era o responsável por tamanho incômodo, tinham um tremendo susto. A carroça não tinha cavalo!

Dentro da carroça, panelas velhas, baldes amassados, chaleiras e bules, alguns pendurados no lado de fora da carroça, eram os responsáveis pelo tremendo barulho.

As pessoas escondiam-se em suas casas, assombradas com tamanha manifestação do outro mundo, esperando que a carroça e o barulho desaparecesse lá longe.


A Lenda da Escrava Maria

Nos anos em que a escravidão era a responsável pela movimentação da economia francisquense, uma escrava chamada Maria, sem entender a razão pela qual foi tirada de sua gente, e trazida a um mundo estranho onde era espancada no pelourinho, o ódio crescia em seu coração.

Maria teve um filho com um escravo da mesma fazenda, mas não queria que seu pobre filhinho tivesse o mesmo destino que ela. Ela estava decidida a fugir. Um dia, antes do sol nascer, Maria juntou as poucas coisas que tinha naquela fazenda infeliz, e com seu filho nos braços, partiu rumo a liberdade. Mas seu senhor não estava disposto a deixa-la ir em paz.


Maria estava desesperada. Para onde fugir? Avistou, ao longe, o Morro da Cruz, e partiu em sua direção. Ao pé da montanha, Maria decidiu que não daria chance ao senhor da fazenda de faze-la sofrer outra vez ou seu filho. Subiu a montanha, e lá de cima viu toda a Ilha. Uma bela visão. Abraçou seu filho com força, olhou uma vez mais ao seu redor e atirou-se no espaço vazio. Durante alguns segundos, parece que a paz reinou em sua vida, mas isso terminou no momento em que seu corpo tocou as pedras. O sofrimento acabara.

O Criador, com pena da pobre escrava, transformou-a numa linda orquídea, que floresce todas as manhãs, quando um lindo beija-flor de asas douradas, seu filho, vem beijá-la com carinho.


A Lenda da Ilha da Canção

Há muitos anos atrás, viviam dois irmãos muito unidos, que pescavam e trabalhavam na lavoura juntos. Um desses irmãos estava noivo e prestes a casar. Em uma ilha, que hoje é chamada Ilha da Canção, resolveram os dois irmãos iniciar uma nova lavoura de feijão. E obtiveram grande êxito, levando-os a dobrar a área de plantio. Numa de sua inspeções pela lavoura, encontraram uma parte destruída. Sem entender o que havia ocorrido, os dois irmãos replantaram a área e voltaram no dia seguinte. A plantação havia sido destruída novamente. Decididos a descobrir quem estava atrapalhando seu trabalho, replantaram o feijão e, escondidos, ficaram de tocaia.

A noite, uma grande lua iluminou toda a baía. O silêncio era total. De repente, ouviu-se um forte barulho vindo do mar, as águas tornaram-se revoltas. Os irmãos estavam tremendo de medo, quando viram sair do meio das águas duas enormes serpentes, que rastejaram em direção a plantação, destruindo tudo no seu caminho. Quando a luz da lua cheia bateu sobre as serpentes, uma transformação ocorreu. As serpentes foram transformadas em duas belas moças, que assustadas ao perceber a presença dos irmãos, tentaram fugir em direção ao mar. Uma delas fugiu, mas a outra foi presa por um dos jovens, que ao tocar a moça, ouviu essas palavras: "Você quebrou meu feitiço e agora me pertence!". O rapaz ficou apavorado, pois estava de casamento marcado. Mas a moça encantou o rapaz, que voltou ao continente, desfez seu noivado, e voltou para os braços de sua misteriosa amada, com quem deu inicio a uma família cujos descendentes foram muito influentes na sociedade francisquense.


A Lenda da Ilha Redonda

Em São Francisco do Sul há uma ilha, chamada pelos pescadores de Ilha Redonda devido ao seu formato. Conta-se que era muito piscosa, atraindo pescadores de vários locais.

Entretanto, poucos tinham a coragem de permanecer na ilha à noite, pois dominados pelo medo e o mistério que rondava a ilha ao anoitecer, lançavam suas embarcações ao mar e fugiam apavorados.

Os que lá permaneciam, contavam que em noites de lua cheia, exatamente a meia-noite, quando o silêncio era quase fantasmagórico, ouvia-se a distância um solitário lenhador a abater árvores com seu machado. Meia hora depois, o "Lenhador", como passou a ser conhecido, recolhia seu machado e o silêncio tomava conta da Ilha Redonda novamente.

No dia seguinte, pela fúria com que o "Lenhador" havia trabalhado na noite anterior, todos esparavam encontrar uma grande área desmatada, mas espantavam-se, pois não havia sequer uma árvore lançada ao solo por toda a ilha.

Muitos, que não acreditavam nas histórias contadas por aqueles que ouviram o furor do machado do "Lenhador", iam passar uma noite na ilha e voltavam contando que realmente, em noites de lua cheia, ouvia-se nitidamente o som do machado afiado contra as árvores.


A Lenda da Roseira

Em uma fazenda, na Ilha de São Francisco do Sul, havia uma menina muito simpática e inocente, que morava com seus tios, pois ainda jovem, seus pais haviam falecido. Eles a tratavam mal, pois a consideravam um empecilho.

No caminho que levava até a fazenda havia uma roseira, que teimosamente engatava no vestido da menina, rasgando um pedaço, toda vez que ela se dirigia para a escola ou retornava para sua casa.

Como aquela situação continuava a persistir, a menina, já aborreda, resolveu queixar-se aos seus tios. Estes não deram muita importância ao fato, e mandaram-na passar longe da roseira e assim evitar o problema.

Assim a menina fez no dia seguinte. Quando estava passando a uma certa distância da roseira, qual a surpresa da menina, quando um galho atravessou seu caminho e rasgou novamente um pedaço de seu vestido. Assustada, a menina voltou apressada para a fazenda chorando, e contou o sucedido aos seus tios, que prometeram resolver o caso no dia seguinte. No outro dia, foram até o local em que se encontrava a roseira, e com um machado, cortaram a planta até a raiz.

Embaixo da raiz, encontraram surpresos, um grande recipiente repleto de moedas de ouro. Com as moedas, tornaram-se grandes proprietários de terras na região, mas enviaram a menina embora sem nenhuma das moedas encontradas graças a ela.